Relato tirado do blog da minha querida amiga Cristina Cardigo.
https://mimami.org/2016/10/12/relato-de-parto-da-bia/
12 de Outubro, nasci há 35 anos, tu há 2 meses.
Tínhamos chegado às 40 semanas. Uma gravidez santa, fruto de uma conceção espontânea. Uma barriga enorme, com bastante líquido para uma bebé que se adivinhava grande. E uma vontade forte de parir de forma natural.
O Gui tinha nascido às 38 semanas. Agora os sintomas de pré-parto começaram às 36 semanas. Quando irá ser? Como irá ser? Ao mesmo tempo que surgiam estas questões, tentava pensar que a Bia iria nascer no seu tempo. E que eu confiava no meu corpo. Conselhos da minha doula para ir controlando a ansiedade.
Nesse dia fui à Clisa fazer o CTG. Uma semana antes tinha recusado o toque, desta vez nem se falou nisso. A Dra. Elsa Milheiras, obstetra que me seguiu durante a gravidez, estava de férias e regressava 3 dias depois. Tinha ficado com o contacto do Dr. Nicolau como backup. Ser atendida por um OB homem era algo que me incomodava. Sei que há muitas mulheres que os preferem mas simplesmente não me sentia confortável com a ideia.
Foi durante o curso com a Naoli Vinaver que resolvi este e outros bloqueios. Depois de conversar com a Márcia, minha doula (que já tinha acompanhado um parto com este médico), pesando os prós e os contras, acreditei que esta seria uma boa alternativa. Ir para um hospital público seria uma roleta russa, mulher ou homem, medicalizado ou humanizado.
Passei o dia com algumas contrações, nada de novo. As noites eram dedicadas à massagem do períneo e afins… Esta filha foi feita com muito amor, era de amor que ela precisava para vir ao mundo de forma natural. Abstive-me de caminhar, subir e descer escadas ou aspirar a casa, coisas que me cansavam e pouco prazer me davam. Bebi muito chá de folhas de framboeseiro com canela e gengibre, bem fresquinho. E tentei usufruir muito destes dias com a família, jantar fora, estar em paz… Muito amor, para que a ocitocina pudesse fluir e fazer o seu trabalho.
De noite comentei com a Márcia que o jantar não me tinha sabido bem e estava com algumas contrações. Depois de conversarmos um pouco, perguntou-me como estava o David, se nervoso ou ansioso. Disse-lhe que estava cheio de vontade, que tinha ido encher o depósito do carro e que quando voltasse de certeza que se iria disponibilizar para dar uma ajudinha ao processo. Mas estava com receio, afinal não queria estar a acordar tanta gente a meio da noite.
2h15, madrugada. Levanto-me com algumas dores, vou agachar-me para a bola de pilates. Contrações de 5 em 5 minutos. Respiro fundo… mãe de segundo é suposto ir para o hospital quando estão de 10 em 10. Fui tomar um duche, dancei e cantei a minha música favorita do curso da Naoli. Imaginei-me rodeada de todas aquelas mulheres, do seu calor e energia.
2h45, chamei o David e telefonei para a minha mãe. Podia ser um falso alarme, mas era melhor vir para cá. O Gui acordou e expliquei-lhe que ia para o hospital e que ele ficava com a avó. Tirou uns macacos do nariz, virou-se para o lado e continuou a dormir. Liguei para a Márcia. Falámos normalmente até ao silêncio de uma contração. Já estão longas! Ligámos ao Dr. Nicolau, que estava na clínica e nos disse para irmos calmamente. Preparei o chá da Naoli e arrumei o que faltava arrumar. Em cada contração, precisava de me curvar.
4h10, chegámos à Clisa, estava a Márcia à minha espera. Um abraço e líquido a escorrer pelas pernas naquele preciso momento. O poder da ocitocina! <3
Estava bem-disposta e expectante. Vesti uma bata catita, que em nada me incomodou, perguntaram-me se iria querer epidural. Acho que revirei os olhos e encolhi os ombros. Entreguei o plano de parto sem grandes conversas. Já tinha sido discutido com a Dra. Elsa e assegurado que tudo estava garantido. No parto do Gui não consegui evitar a epidural devido às dores fortes provocadas pela indução. Mas foi a mesma epidural que me fez perder a sensibilidade, não sabia quando fazer força e, portanto, levou-me à episiotomia e aos fórceps. Desta vez eu queria ter o controlo!
Disse que não queria canalização de uma veia mas sabia que seria algo que os médicos iriam pedir aos 5cm. Ainda devia faltar, eu estava tão bem que só podia estar no início.
O médico pede para avaliar. No plano de parto, pedi o mínimo de toques possível e sempre feitos pela mesma pessoa. Sabia que era algo para o médico sentir controlo sobre o processo. Coloca um dedo, bolsa intacta, colo elástico, desculpe mas tenho que usar o segundo dedo, ora 1, 2, 3, 4, 5 cm. Uau! Tinha dito à Márcia que não queria saber centímetros, por receio de desmotivar e por saber que nada disto é linear.
Continuámos no quarto, a conversar e comer bolachinhas. Sempre que vinha uma contracção, tinha 4 mãos maravilhosas para me apoiar. Recebi tanta massagem na zona lombar que no dia a seguir estava dorida! E o duche, não queres experimentar?, ia perguntando a Márcia. Ainda não, vou esperar até que me sinta pior.
Nova avaliação, 8cm. Já pensou na posição?, perguntou o Dr. Nicolau. Vou decidir na altura.
As dores começavam a apertar e fomos para o duche, eu sentada na bola, abraçada ao David, enquanto a Márcia massajava e insistia com água na zona lombar.
Voltei para o quarto e precisava de me virar para dentro. Sentei-me na bola e as dores a intensificar. Já não era possível conter a voz. De repente, a bolsa rebenta e sinto água por todo o lado. Vai nascer! Chamem alguém!
Fazem-me subir para a cama, diz quem lá estava que se via um rabo e era preciso um lençol, que não podíamos atravessar o corredor assim. Onde é que já se viu tamanha descompostura? Da maneira como eu estava a vocalizar, duvido que alguém reparasse no rabo, mas a verdade é que eu estava de olhos fechados e nada vi… Olhe que vai acordar os bebés! alguém disse quando atravessámos o corredor. Depois do parto o Dr. Nicolau contou-me sobre os países nórdicos, onde ensinam as mulheres a cantar/vocalizar durante o trabalho de parto.
“O grito no parto não é necessariamente um grito de sofrimento. Muitas vezes é uma exteriorização de energia corporal, uma forma de aliviar a tensão do momento e ganhar forças. É um som que vem cá de dentro e é incontrolável.”
Eu não consigo… eu não consigo!!
Consegue sim! disse o Dr. Nicolau para me encorajar.
No bloco de partos, deite-se aí. Deitada não! Prefere sentada? Que dores!… Mas ainda tem as cuecas! Cortem!! Aqui não se corta nada! Levantei-me da cadeira e procurei a melhor posição. Virei costas a toda a gente e dobrei-me. Houve quem estranhasse esta mulher que ia parir de rabo para o ar. Parir é como ter relações, qualquer posição é boa! O médico é que tem que se adaptar. – ouviu quem rodeava o médico.
8h E ali estava eu, sabendo que agora tudo dependia de mim. Muito apoio do David, é a nossa filha, já a vejo, está quase, 3 contrações e ela estava cá fora. Agora deite-se para fazer pele com pele, ah espere lá que tem que levantar a perna para a bebé passar que ainda não cortámos o cordão.
Ela no meu peito, ele ao meu lado e um sorriso enorme nos lábios. 4,035 kgs de doçura. Dois pontinhos internos e nada mais.
Estava pronta para tomar o pequeno-almoço. 🙂 Um parto feliz, o meu parto, conduzido por mim, com uma equipa maravilhosa: filha Bia, pai David, doula Márcia e obstetra Nicolau.
Bem-vinda ao mundo, minha Bia!